E aí o tempo é indomável.
Em três anos, muitas coisas mudam. Em dois anos, muitas coisas mudam. Em um ano, muitas coisas. Em seis meses, algumas coisas mudam. Em um mês, pouca coisa. Em um dia, a coisa muda.
E pensar que onde rasgamos noites reunidos, abraçados, esfregando-nos delicadeza e amizade, hoje nada mais é que outro lugar ou arremedo. À mesma mesa em que dispusemos a carne a as almas, os copos e as mãos, há chaveiros de carrões, cigarros caros e gargalhadas ao custo de uma ameixa.
Os disputados centímetros quadrados, hoje, estão assim desoladores. O chão acimentado, as velas apagadas, os rostos vazios ao redor de três ou quatro bolsinhas de grife. E pensar que foi aqui que comemos alegria e bebemos novidade, todos juntos.
Éramos poetas, atores, músicos, artesãos, compositores, figurinistas, funcionários públicos, químicos, advogados, jornalistas, cantores, professores sob a mesma luz, fugindo das goteiras de Abril sem fadiga.
No tempo mora a correnteza que carrega tudo e nos força a engolir a saudade.
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